A arqueóloga Luara Antunes Stollmeier tem 33 anos, mora em Curitiba e é atleta da Carbono. E neste mês de janeiro, em que se promove a saúde mental, nada como uma boa história de como a corrida e a atividade física podem funcionar como uma base de sustentação. Seja pela atividade em si, como pelas relações que ela proporciona. Confira!

´´Comecei a correr quando voltei de um trabalho de campo, escavando um sítio arqueológico na Antártica. Os praticamente três meses de viagem alteraram demais minhas condições físicas, então, meu primeiro objetivo com a corrida era apenas perder uns quilinhos pra voltar a me dedicar ao esporte que amava, a escalada esportiva.

Foi assim que fiz minha primeira prova de 10km, meio ano depois de começar a correr – sem qualquer aptidão, seguindo programas da internet e depois de uma assessoria famosinha que conheci na USP.

Veio a pandemia e parei tanto corrida como escalada. Passei a me dedicar a fortalecimentos duas vezes por dia, “para não enlouquecer”, dizia brincando. Essa brincadeira falava muito sobre as minhas ansiedades. Foi um tempo de muitas mudanças, incertezas profissionais, preocupações com a saúde e familiares, além da escrita da minha tese de doutorado. O futuro já não parecia incerto, parecia improvável.

Em 2022, desenvolvi crises de pânico – eu não fazia terapia e sequer sabia que era isso o que se passava comigo. Meus pais me ensinaram a meditar desde muito cedo, e foi muito difícil aceitar que um “descontrole emocional” estivesse realmente acontecendo.

Naquele ano, havia voltado a subir montanhas, como uma válvula de escape. Foi quando comecei a aparecer esporadicamente em treinos de corrida em montanha com a Carbono, e, sem pretensão, fiz a minha primeira prova na ultramaratona dos Perdidos, de 15km. Foi muito emocionante!

Depois, tentei aumentar meus treinos, sem muito acompanhamento, e desenvolvi duas tendinites – uma em cada joelho. Precisei parar todas as atividades físicas novamente, minhas crises de pânico se tornaram ainda mais frequentes. Junto a isso, havia iniciado um trabalho em uma nova área, terminado um relacionamento. Ih, era bastante coisa numa cabecinha só…

Em 2023, com as tendinites controladas, voltei a treinar e decidi por mudanças mais profundas. Brinco que a CLT me salvou – mas essa foi uma entre tantas coisas que mudei. Comprei uma bicicleta. Comecei terapia. Fechei um plano com a Carbono: planilha, treinos de base, corrida em montanha quase todo fim de semana. Fui aos treinos presenciais – e em TODOS eles, desde o início e sem ninguém saber tudo o que estava passando, fui abraçada, bem vinda, me convidavam pra outros treinos, pra sair pra comer, pra viajar, pra mil outros roles. Fui muito acolhida!

E começou uma fase em que me realizava mais, um passinho de cada vez: a força de vontade de voltar a treinar, de sair de casa, de ver gente (a Carbono foi crucial aqui). Os treinos de 8km passaram a ser de 10km, de 15km, de 17km…conheci pessoas com histórias muito legais e planos mais legais ainda, fiz amigos para além da corrida! Voltei a me concentrar no trabalho, a ter projetos pessoais, a enxergar futuro. Contei para alguns amigos que fiz na Carbono sobre as minhas crises e, quando tentava furar treino, já vinha aquele baita apoio. Minhas crises passaram de 3, 4 por dia para uma por semana…uma a cada quinze dias…chegando a uma por mês, sem qualquer uso de medicação.

Tudo indo bem, eu me aventurando em outros esportes, aumentando os treinos…até dar um passo em falso e me lesionar durante uma prova no morro dos Perdidos – que era só a preparação para a minha primeira de 35km, a Mision. Quando tive que parar todos os treinos, me desesperei. Pensei: “pronto, lá vou eu afundar em crises de novo, já era pra mim”. 

Viajei para a Misión e, mesmo sem correr, fui abraçada por uma comunidade de colegas e atletas. Ainda que parando os treinos com a Carbono, continuei tendo o suporte do Carlos e da Suelen, que acompanhavam minhas notícias médicas, junto com amigos da assessoria. Continuei indo nas confraternizações da assessoria. E não, não aconteceu nenhuma crise de pânico. 

Por conta disso sinto que esse combo de mudanças, no qual a Carbono (que é corrida, planejamento de progresso, parceria, amigos) e a terapia, foram tão significativos, tem me curado daquele processo tão doloroso. Se em 2022 eu senti tantas vezes que estava morrendo, em 2023 eu nem consigo contar quantas vezes me senti viva, correndo, treinando, feliz.

E é isso o que carrego comigo, vontade de viver, de tratar essa lesão logo, muitas saudades dos treinos na montanha…!

Sigo fortalecendo e me exercitando pelo menos cinco dias na semana, voltei a escalar para ganhar mobilidade e confiança. Ainda não tô liberada para correr em terrenos tão acidentados, mas estou ingressando nos treinos de base da Carbono novamente, confiante no processo de evolução que já vi que somos capazes de desenvolver juntos.´´

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Jornalista, pai e corredor. Vê a corrida como uma ferramente para fazer a vida fazer sentido. Não se preocupa em ser rápido, nem com a chegada. O que importa é o caminho...

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