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Estudante e professor de Filosofia em Marília-SP, João Antônio de Moraes correu neste domingo em Sorocaba sua primeira maratona. Um feito e tanto para quem começou a correr em março de 2016 e que até agosto de 2015 dedicava dias e noites apenas aos estudos. Ainda jovem, com 29 anos, João já sentia o corpo cobrar o preço de uma vida sedentária. Com uma intensa vida acadêmica, que o obrigava a ficar longos períodos sentado, lendo e escrevendo, João andava com muita dor nas costas e quase travando.

A intensidade na vida acadêmica não mudou, mas com a introdução da corrida em seu dia-a-dia, João viu sua vida mudar. Confira:

Como a corrida entrou na sua vida?

Comecei a fazer musculação em agosto de 2015. A correr eu comecei os treinos apenas em março de 2016. Sempre ao final da musculação fazia 40 minutos de esteira caminhando rápido, até que ficou um pouco entediante. Porém, eu não conseguia correr 50 metros. A situação que me lembro é de ir comprar uma cerveja num bar que ficava em frente de onde eu morava, dar um pique e chegar morrendo no bar (era só atravessar a rua). Vi uma corrida que teria na cidade de Marília no final de semana, mas que já não dava mais para fazer inscrição. Aliás, mal sabia como isso funcionava. Na semana seguinte a TV Tem começou a divulgação da ‘TEM Running’ em Bauru, que seria dali a três meses. Fiz a inscrição, busquei no site ‘Eu Atleta’ uma planilha para correr 5K em oito semanas. E no final da musculação, em vez de caminhar eu fazia o treino da planilha de corrida.

Como foram as primeiras semanas de corrida, treinos…

Comecei literalmente do zero. O começo foi bem difícil. Eu não conhecia nada. Mas segui a planilha que envolvia caminhada alternando com caminhada rápida, depois caminhada alternando com corrida de um minuto, três minutos e por aí vai… A cada dia de planilha cumprida eu ficava mais feliz. Era realmente uma coisa inesperada. Eu fazia a musculação e depois ia pra esteira. Na primeira vez que corri 15 minutos seguidos eu quase não andei até em casa, mas foi uma sensação muito boa. Eu tentava dar conta da planilha do dia e com um pouco de insistência acabava dando certo.

Lembra de sua primeira prova?

A primeira prova foi a ‘TEM Running’ em 25 de Junho de 2016, em Bauru. Foi uma prova de 5K. Eu não sabia como retirava o kit, não sabia o que era pace, não sabia como me comportar na prova e o mais interessante: fiz todo meu treino na esteira, então não sabia como correr na rua. Mas fui! A meta era concluir a prova correndo. E pra manter minha tradição de iniciar distâncias em provas difíceis, na minha primeira prova encarei a Avenida das Nações Unidas em Bauru. Me lembro que se a prova tivesse mais 100 metros eu não concluiria. Mas os 5K foram possíveis. Fiz em 30 minutos, mas não tinha ideia de que isso era um bom tempo. O que mais me impressionou foram os corredores mais velhos fazendo 10K e terminando um pouco depois de mim. Achava aquilo uma coisa impossível!

E sua evolução até a maratona?

Após correr os 5K nunca imaginados, precisei duas semanas para trabalhar, mas retomei logo em seguida. Ainda não tinha uma noção correta de como sistematizar os treinos, de alimentação, de fortalecimento, mas acabei tentando manter os 5K nos 30 minutos e fui aumentando um pouco durante 15 dias. Até que cheguei nos 10K, a marca que achava impossível. Criei um perfil no Instagram, comecei a seguir e a entrar em contato com profissionais de corrida, com corredores amadores e fui conseguindo informação para aprimorar os treinos.

Conversei com um amigo personal trainer que me indicou um esquema de treino de corrida e fortalecimento que passei a seguir. Algo simples, mas que envolvia intervalado e contínuo, com um longo ao final da semana. Comecei em agosto de 2016 e a meta era os 15K da São Silvestre. Como peguei gosto pela coisa, tentava correr todos os dias. Fiz meus primeiros 15K em setembro de 2016 e daí acabei me inscrevendo na Meia Maratona de Bauru do mesmo ano. Não foi a coisa mais inteligente que fiz nesta vida de corredor, mas foi um momento de grande aprendizado.

Não estava pronto ainda pra correr 21K: não treinei direito, o corpo ainda não estava habituado à distância e, o principal, não tinha preparo mental para encarar uma prova de mais de duas horas. Aos trancos e barrancos consegui concluir a Meia Maratona de Bauru em 2h38min. Embora tenha sido muito difícil, com muita vontade de parar durante a prova, foi quando aprendi que o gostoso de correr é o passeio, a diversão e o prazer em fazer aquilo! Aprendi também tudo que faltava melhorar pra poder encarar uma meia maratona de forma adequada, sem judiar do corpo.

No final do ano fiz a São Silvestre, com muita diversão e coloquei de meta pra 2017 concluir bem uma meia maratona bem. Janeiro foi o mês de voltar ao ritmo após as festas e em fevereiro comecei a planilha para os 21K, que encontrei também no site ‘Eu Atleta’. Fiz a inscrição para a Meia Maratona ‘Pague Menos’ em Campinas, em 11 de Junho. Treinei conforme planejado, fiz o fortalecimento que o corpo precisa, li muito sobre corrida para preparar a cabeça para a hora da prova e adequei minha alimentação de modo que contribuísse para os treinos.

Como dizem: prova de longa distância é muito mais cabeça do que preparo físico; e isto é fato! Corri a prova e fechei em menos de duas horas. Não acreditei quando vi no relógio! Foi uma prova muito gostosa de correr! Além desta meia, ainda corri a meia de Maratona de Marília, a meia da SP City e a Meia Maratona Internacional do Rio, conseguindo baixar o tempo cada uma delas. No meio das meias, quando senti que os treinos estavam fluindo bem e que os 21K estavam conquistados, me inscrevi para a Maratona de Sorocaba.

Lá no início, estar inscrito e se preparando para uma maratona era algo que imaginava?

Correr uma maratona foi algo que nunca passou na minha cabeça. Pra mim seria mais fácil me tornar astronauta do que correr em si. Uma maratona então… impossível! Nunca fui o atleta, o “cara” das atividades físicas. Tive momentos durante minha adolescência com futebol, luta, mas nada que fosse algo que fizesse parte da minha vida. Correr uma maratona não estava nem próximo de qualquer plano possível.

Quando isso passou a ser algo possível?

No decorrer dos treinos para a meia e com a distância se tornando mais amigável, tanto pelo preparo físico como pelo preparo mental para encarar corridas de mais de duas horas, a maratona, que era algo impensável, inclusive quando já corria 5 e 10K, passou a ficar mais próxima. Mesmo assim, a decisão de encarar uma maratona foi a partir de situações de auto-desafio, de querer uma conquista a mais. Nunca imaginei correr, nem correr 5K, nem 10K. Consegui os 21K e por que não os 42K? Feito isto, muita calma e estratégia para tornar esse desejo possível. Embora não tenha muito tempo de corrida de rua, a gente aprende que os passos precisam ser dados com calma, para evitar prejuízos como lesão ou mesmo um trauma numa distância que não foi feliz em uma prova específica.

Quando começaram os treinos específicos para a prova?

Segui a planilha do ‘Eu Atleta’ para os 21K até Meia Maratona “Pegue Menos”. Então chegou no e-mail uma reportagem que eu não me lembro o site, indicando uma planilha para os interessados em fazer sua primeira maratona. Analisei a planilha e, tirando a novidade dos treinos longos, já tinha encarado aquela rotina de treinos; a mudança também seria em passar de três para quatro treinos de corrida por semana, além do fortalecimento. Além disso, fui numa nutricionista para adequar a minha alimentação de modo a ter a energia necessária para dar conta dos treinos e, ao mesmo tempo, conseguir ficar um pouco mais leve em função da distância. Comecei os treinos no dia 13 de Maio, com a planilha planejada para 16 semanas. Como concluí a planilha quase dois meses antes da prova, acabei repetindo, na medida do possível, as últimas sete semanas. Na medida do possível, pois foi justamente quando surgiram diversos compromissos acadêmicos e pessoais que acabaram deixando os treinos um pouco confusos. Mas mesmo assim dava um jeito de manter uma rotina mínima, focando, principalmente, nos longos.

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Como eles se encaixaram no seu cotidiano? 

Os treinos para a maratona começaram em meio a um acontecimento bastante complicado neste ano, que foi um acidente de carro envolvendo minha esposa. Neste acidente ela acabou fraturando uma vértebra da coluna cervical e precisou ficar quatro meses utilizando colar e em repouso. Isto acabou sobrecarregando minhas atividades e trazendo um estresse inesperado. Junto a isto, estou no último ano do meu Doutorado em Filosofia, no qual preciso concluir a redação da tese. Neste contexto, os treinos foram fundamentais para manter a sanidade mental e um bem-estar durante todo este período. Desde que comecei a encarar a corrida como algo que faz parte da minha vida, busco também manter a disciplina nos treinos, sabendo que mesmo não sendo o melhor treino possível, este será melhor que treino nenhum. Sendo assim, apesar dos compromissos familiares e profissionais, eu fazia o possível para ter uma ou duas horas pra mim no dia que precisava correr, inclusive levando a sério o ditado “até meia-noite é hoje”.

Como a corrida influencia sua vida atualmente?

Atualmente a corrida faz parte da minha vida. Mais que um simples hobby, é parte do dia a dia. O planejamento da semana envolve pensar também nos horários que será possível correr, fazer fortalecimento e também em como me alimentar para que os treinos sejam bons. Como sempre há uma corrida em vista, com novos desafios, os treinos não podem parar.

Isto, é claro, sempre levando em consideração que a corrida é algo que precisa ser prazeroso e não uma obrigação. Claro que se você quer performance, então há mais coisas a se abdicar do que quando se quer deleite. Eu sou o segundo tipo: corro pelo prazer de correr, curtindo a paisagem, fazendo “turismo a pé” e descobrindo a felicidade em conquistar distâncias maiores.

Qual a importância da MLF nesta jornada?

Conheci a MLF no final de 2016, quando fui convidado para participar de um treino que faria o percurso Marília-Avencas. Foram 16K de um belo desafio, no qual pude começar a conhecer a assessoria e algumas pessoas que faziam parte dela. Foi meu primeiro longão com companhia. A partir daí o Alemão me incluiu no grupo e comecei a participar com frequência de treinos longos da MLF.

Foi uma excelente descoberta, já que até então corri sempre sozinho. Poder começar a fazer parte de um grupo fez muita diferença, tanto no conhecimento acerca de especificidades da corrida, como em novos desafios que foram surgindo nas conversas durante os longos. Há muito apoio mútuo na MLF, muita amizade genuína e um suporte que permite que se avance com segurança nos objetivos escolhidos. Alemão, Mayra e Géssica seguem de perto os alunos e tenho visto muita gente evoluir bem rápido. Seja no decorrer das quatro meias deste ano, seja para a conquista da maratona, ter a presença de uma assessoria esportiva, que conta com profissionais capacitados, dá uma segurança no que se está fazendo. Te permite arriscar sempre um pouco mais.

O grande dia

Como estou correndo também com a finalização da tese, minha cabeça só foi se tocar da Maratona poucos dias antes, quando comecei a organizar as coisas para viajar para Sorocaba. Daí a ansiedade bateu e eu fiquei um pouco elétrico! Na semana da maratona também foi meu aniversário, o que deixou tudo mais animado ainda. Inclusive, meu último treino antes da maratona foi uma corrida leve de 8K com o pessoal da MLF, com direito a bolo, risada e descontração para relaxar um pouco.

Pedi muitas dicas a pessoas que admiro muito na corrida, que me ajudaram demais a poder me organizar com suplementação, estratégia de prova e a como encarar algumas situações que poderiam acontecer (câimbra, queda no sódio, pane mental, etc). Não convém mencionar os nomes aqui, pois foram muitas pessoas mesmo que me ajudaram e fico com medo de esquecer alguém.

Este é um ponto muito positivo, fiz muitas boas amizades na corrida. Consegui dormir boas quatro horas, comi meu café da manhã, assisti dois vídeos que uma amiga me enviou e fui pro local da prova. Acabei chegando bem cedo, às 5h. A largada marcada para 6h15 acabou sendo às 6h30, o que acabou aumentando a adrenalina.

Na largada estava com duas amigas, a Celinha e a Marília. Celinha também ia para os 42K, a Marília para os 10K. No meio da prova encontrei o Rodney e o Johnny, que também estava nos 42K. Todos eles amigos que fiz na MLF. Embora cada um corra no seu ritmo, passar por amigos no meio da prova é uma coisa revigorante. E nisto se destaca também as amizades do Instagram: passei por dois amigos que até então não conhecia pessoalmente, mas que deram bons gritos de motivação quando nos cruzamos no percurso.

A prova foi bem difícil, percurso muito complicado, cheio de subida, com duas voltas de 21K. Sendo a primeira parte com garoa e a segunda com sol a pino, situações que mexem bem com o emocional. Mas eu estava muito feliz! De verdade! Desde o início segui meu ritmo, sem pressa, sabendo que muita gente iria passar por mim. Primeiros 21K foram conforme planejado. O momento crítico foi entre os 23K e 25K. A repetição do percurso pesou um pouco. Passar pela largada e ter que fazer a volta mais uma vez é complicado quando se é inexperiente na distância (mas mesmo em corridas de 10K isto já não é agradável).

Nessa hora parei para um xixi rápido, intercalei caminhada com corrida, para aguentar algumas subidas mais pesadas, ganhei azeitona de um parceiro que também estava andando do meu lado e viu minha cara de quem estava com sódio baixo (comi, mas odeio azeitona), e logo no 25K tinha o bendito refrigerante. Neste momento parecia que a prova tinha começado de novo. Azeitona + refri + advil (pra prevenir dor na lombar) e eu estava novo. Junto a este momento eu sempre lembrava da frase de Steve Prefontaine: “Dar menos que o seu melhor é sacrificar um dom”.

Retomei o ritmo leve e fui até o final. E eu estava realmente muito feliz. Eu estava bem, as placas de KM iam passando e eu cumprimentava todo mundo que estava do outro lado do canteiro. Quando vi já estava no 39K, ainda tinha perna, não tinha dor, e o som estava bem alto no ouvido. É claro que o km final pareceu infinito, mas ele acabou. Que sensação maravilhosa! Nem lembrei que estava emocionado e queria chorar. Eu só estava feliz demais!

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Encontrei minha esposa na chegada, e os amigos que já tinham concluído a prova. A única coisa que falei pra ela é que eu queria mais! Correr maratona não é fácil, mas traz um prazer indescritível. Valeu muito a pena cada treino, cada cerveja não bebida, cada doce que foi deixado pra depois. Aos que desejam encarar esse desafio: RECOMENDO! Busque profissionais capacitados, se dedique e no processo de correr uma Maratona você vai acabar ganhando muita coisa boa, sendo a melhor delas os amigos!

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Jornalista, pai e corredor. Vê a corrida como uma ferramente para fazer a vida fazer sentido. Não se preocupa em ser rápido, nem com a chegada. O que importa é o caminho...

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