Foram cinco anos de uma incansável busca pela vaga em um Mundial de Ironman 70.3. E há alguns dias o fisioterapeuta Ricardo Morais Machado, de 34 anos, voltou de Port Elizabeth, na África do Sul, com o sonho realizado. O triatleta mora em Cachoeira do Sul-RS e há cinco anos e meio treina com a FSTeam. Confira o seu relato, em que ele conta um pouquinho da sensação de alinhar na mesma prova com atletas consagrados, como Jan Frodeno, Alistair Brownlee e Javier Gomez.
A prova
“Esperava ter feito um tempo um pouco melhor. Uma boa prova seria para 4h30min, mas fechei em 4h44min. O dia da prova estava nublado e teve chuva leve, o que de certa forma é bom, por que deixa a temperatura agradável. A água estava ‘geladinha’, mas para nós, gaúchos, eu diria que estava boa.
A largada foi bem organizada, de forma que não tivesse maiores atropelos. A natação é onde tenho mais dificuldade, mas nesse dia foi minha melhor modalidade. O ciclismo foi meu divisor de águas. Acreditava que faria um bom pedal, estava bem treinado, mas não contava que o vento atrapalharia tanto. O asfalto era muito ‘áspero’ e parecia que a bicicleta não fluía. Achei também que a prova seria mais plana, mas tinha uma boa parte com muitas subidas e descidas concentradas em um mesmo local. O asfalto molhado também foi um agravante nas descidas mais fortes e acabei não fazendo o programado.
Senti que minhas pernas cansaram. Elas já vinham cansadas da viagem – deveria ter ido alguns dias antes para o mundial -, mas pensei que na corrida, que considero minha melhor modalidade, eu poderia recuperar o tempo.
Inicialmente consegui impor o ritmo programado, mas já na metade da prova paguei o preço do esforço extra no ciclismo, então parti pro plano B. Pensei em terminar a prova me sentindo bem, firme e aproveitando aquele momento ímpar em minha vida. Deu tudo certo, sonho realizado e muito feliz.
Foi meu primeiro mundial. Demorei cinco anos para conseguir essa vaga. Uma experiência única com muitos aprendizados e como atleta amador conclui que é de suma importância chegar alguns dias antes para ‘tirar a viagem do corpo’. Fiquei com muita dor nas pernas, que ficaram muito inchadas devido às horas de voo. Acostumar-se com o local e organizar a alimentação é crucial e isso demanda tempo”
As feras
“Sobre estar na mesma prova com atletas como Jan Frodeno, Alistair Brownlee e Javier Gomez, é surreal ver esses atletas, que não são seres humanos ‘normais’, são de outro mundo. Legal ver eles treinando como qualquer outro atleta. Poder dividir a mesma competição com atletas de alto nível era um sonho e tudo deu certo. Espero o momento em que possamos nos reencontrar hehehehehe. No ciclismo tive oportunidade de cruzar por eles e pareciam que estavam de moto. Atletas de verdade em um esporte de verdade.
Eu que tenho um.pouco de vergonha de pedir fotos não pude deixar passar quando estava almoçando no mesmo local que o Alistair. Pessoas fora do normal agindo como nós, normais. Muito legal!
Tive a chance de acompanhar de bike as mulheres da elite. Inclusive a nossa representante brasileira. Lindo de ver a alta performance e a concentração das atletas”.
O começo
“Comecei a praticar esportes na escola, onde a Educação Física era minha matéria preferida. Praticava todas as modalidades oferecidas e minha mãe sempre me incentivou a participar de outros esportes em escolinhas,
Comecei a participar de corridas de rua em 2005. Aos poucos fui me aventurando, conheci o mountain bike, fui atrás de travessias aquáticas, comecei a remar e quando vi já estava praticando algumas modalidades no mesmo dia. Um dia recebi um convite de um amigo para participar de um triathlon de curta distância. Lá ouvi falar o nome de quem hoje é e sempre foi meu treinador. Fui atrás da assessoria e nunca mais parei.
Evolui gradativamente nas distâncias. Acredito que não pulei etapas. Participei de curta, média e longa distância até chegar ao meio ironman e ironman. É muito interessante ver a evolução física e mental neste período. Uma transformação fascinante.
Já participei de inúmeras provas e já não tenho controle de quantas, mas posso citar algumas só de corrida, como Mountain DO Ushuaia, Fernando de Noronha e Deserto do Atacama. São provas em que fui campeão e comecei a acreditar que poderia ir mais longe. Fui campeão de duplas da Travessia Torres/Tramandaí – 82km pelas areias do litoral gaúcho. No triathlon, já fiz nove vezes o meio ironman e três vezes o ironman. No 70.3 de Punta del Este fui 6º geral da prova, melhor Brasileiro e campeão na categoria. Isso além dos títulos estaduais de duathlon e triathlon, este na categoria.
Os treinos são diários e às vezes duas ou as três modalidades no mesmo dia. É muito difícil conciliar e encaixar os treinos, mas faço de tudo para não falhar. Para o atleta amador esse é o maior desafio: conciliar vida pessoal e profissional com os treinos”.
Os sonhos
“Espero manter minha qualidade de vida, servir de exemplo para que alguém comece no esporte, deixar uma história bonita para ser contada, mostrando que não existe caminho melhor para formar um cidadão com princípios e boa índole. Sonho também em ir para o Mundial de Ironman em Kona no Hawai.
Hoje, acordo e durmo pensando no triathlon. Meu dia é moldado e organizado a partir dele. Ele é fundamental na pessoa que me tornei hoje. Uma pensa ter começado tarde, aos 30 anos. Mas pensando que quero isso para vida toda, ainda tenho alguns anos para correr atrás”.
FSTeam
“A FSTeam é mais que uma equipe e como treino por planilha a distância, praticamente sempre sozinho, não tenho convívio diário com os colegas. Mas estar em contato com eles serve de motivação para seguir adiante. Como já disse, em minha primeira prova ouvi falar o nome de Frank Silvestrin e logo fui atrás dele nas redes sociais. Agendei uma conversa em Porto Alegre e desde então estamos juntos. Com todo o seu conhecimento e experiência, ele, um excepcional profissional, vem me moldando, um atleta amador. Sou muito grato por tudo que conquistamos juntos. Faz parte de um capitulo muito importante de minha vida!”