Em novembro de 2022 contamos por aqui a história de Maria Gorete Lara, então 54 anos. Mãe de Alinne e Anna e, na época era avó de Mauro Henrique e esperava a chegada de da neta Heloisa, hoje com um aninho. Em Ji-Paraná, Rondônia, pelas mãos do treinador Juliano Norberto, ela festejava dois anos de uma grande virada em sua vida. E sonhava – e treinava para isso – em se tornar uma vovó maratonista. Mas ela foi além e fizemos questão voltamos aqui para contar esta história. Confira!

´´Em 2023 tive o privilégio de participar da minha primeira maratona, a de Floripa. O tempo não foi o esperado – 4h55min – mas foi suficiente para guardar a emoção no coração de atravessar a linha de chegada. E para coroar o ano, em dezembro participei do Rondônia Run que fecha o calendário de provas de corridas de rua no Estado. Queria celebrar meus 55 anos correndo os 50K Solo.

Meu professor Juliano Norberto me apoiou e elaborou minha planilha de treinos, que fiz parcialmente devido a uma série de eventos como trabalho e uma gripe que insistia não ir embora. Enfim, na semana que antecede a prova meu corpo e meu psicológico tinham reações estranhas como crise de ansiedade e alteração da pressão arterial. Senti medo, mas fui encorajada por aqueles que gostam de mim e admiram a minha coragem.

Chegou o grande dia! Eu era a única mulher nos 50K e isso me encorajava e me fazia sentir vencedora, além de ser uma incentivadora para mais mulheres.

Saímos do Beira Rio Cultural e fomos rumo à Avenida Brasil, com sua elevação interminável). Na empolgação seguimos num único pelotão, confraternizando e incentivando uma aos outros. Fiz parceria com meu amigo Sergio Souza e seguimos por mais ou menos 20 quilômetros. Ainda estava escuro quando já estávamos na estrada do aeroporto e o meu carro de apoio foi atrás nos dando suporte de luz. Seguimos sentido ao distrito de Nova Colina e os primeiros raios de sol surgiram, um encanto do Criador.

Segui num pace acima do sugerido pelo treinador até a virada dos 25k. Estava satisfeita com o meu desempenho até aqui. O sol foi apertando, queimando forte as minhas costas e exigindo mais paradas para hidratação. Lembrei dos conselhos de um amigo querido que me disse: nos momentos em que você achar que está difícil, reze. Alternei entre um Pai nosso e uma Ave Maria e acho que devo ter rezado um rosário inteiro. E o milagre acontecia, nas horas em que era possível assar um ovo no asfalto, eu sentia um vento fresquinho que baixava a temperatura do meu corpo e sentia os cuidados da Mãe, que literalmente me abanava com um ventilador natural. O alívio acontecia e a força renascia e foi assim até o final do percurso.

Nesta altura eu já estava na pista sozinha e na altura do quilômetro 35 passamos em frente a uma igrejinha com a imagem do Cristo Redentor de braços abertos derramando bençãos aos que por ali passam. Paramos e fizemos umas fotinhas (risos). Logo em seguida peguei um retão de onde era possível enxergar as torres de controle do aeroporto e neste momento eu literalmente viajava. Viajava nos pensamentos mais bonitos e possíveis…

Eu já estava somente pela graça e as pernas já davam sinais de câimbras. Faltava pouco, muito pouco para atravessar a linha de chegada. E o sol? Castigava impiedosamente! Eu mais uma vez pedia aquele socorro divino e ele sempre vinha. Trazia comigo a medalha de Nossa Senhora das Graças, que nunca me abandonou.

Não sei de onde veio-me uma força incrível e eu que estava caminhando comecei a trotar. Cheguei na Maringá e meus olhos brilhavam! Eu só pensava na alegria da chegada, as câimbras aumentando e eu descendo em meio aos carros, motos e bikes… Já era hora da galera que trabalha voltar para casa. Os bares e restaurantes da avenida lotados, uns apontavam com cara de espanto, cumprimentavam e incentivavam… outros ignoravam e quase me atropelavam.

Faltando mais ou menos 2k para chegar, tive uma crise de câimbra e meu apoio foi fundamental nos alongamentos, spray e me oferecendo energético. Peguei a marginal e o coração disparava…  e eu nem acreditava, não sentia as pernas e não consegui aumentar a passada. Fui trotando e passando ali embaixo da ponte num pedaço de sombra refrescante, em que adquiri num suspiro de forças para trotar mais uns 300 metros e atravessar a tão sonhada linha de chegada, concluindo a prova de 50k em 7h38min.

Não tinha mais nenhuma força e fui ali recebida carinhosamente pelos atletas, alguns amigos e pelo querido Professor Juliano. Recebi hidratação, alimentação, carinho e muito gelo nas pernas. Foi incrível. Foi desafiador. Estou feliz!

Não há como relatar esta jornada sem os agradecimentos: meu apoio Douglas (colega de trabalho), Alziane e Alessandra (esposa e sogra do Douglas). Foram fundamentais e cumpriram com maestria a função. Espero que tenham se divertido assim como eu me diverti.

Ao querido Juliano Noberto, que acreditou no meu potencial e me ajudou com planilhas de treino, orientações e todo cuidado. A Dr. Shape, que cuidou da minha suplementação antes, durante e depois da prova.

Ah e a minha família… eles me apoiam nestas loucuras! Em especial a mamãe, que quando percebeu que entrei na garagem veio me ver e saber como é que eu estava e me parabenizar.

Aos amigos que me incentivaram com mensagens carinhosas. A Vanessa Ávila de São Paulo, uma corredora que conheci no percurso da Maratona de Floripa a qual mantenho contato, que me incentivou a escrever sobre cada prova para que o evento não se perca na nossa memória. Com ela aprendi verdadeiramente a curtir cada km da prova.

A OAF SPORT pela idealização e organização de uma prova tão vibrante que contagia os atletas num clima maravilhoso. É superação para cá e para lá. E já fazendo planos para a próxima edição.´´

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Jornalista, pai e corredor. Vê a corrida como uma ferramente para fazer a vida fazer sentido. Não se preocupa em ser rápido, nem com a chegada. O que importa é o caminho...

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